REFLEXÕES

A criatividade humana para a maldade parece mesmo não ter limites: no Paraguai o castigo para delatores ou para quem vende drogas para atravessadores concorrentes, são de várias formas, mas duas são as formas prazerosamente preferidas: “Amarrar o condenado com as mãos numa mula e os pés em outra. Os animais são espantados para correr em direções opostas. Apreciam, também, amarrar o sentenciado pelo pescoço num cabo de náilon na traseira de uma caminhonete e acelerar por cerca de trinta quilômetros, em média. Quando o veículo pára de puxar o esfolado vivo, pouco resta do que foi um ser humano.” E ainda: “Nas rebeliões orquestradas passaram a ser vistas cabeças cortadas exibidas como se fossem troféus. [...]. Cabeças espetadas em pontas de ferro nas lajes de presídio. Corações arrancados do peito, fritos e comidos pelos principais inimigos no interior de São Paulo. Olhos extirpados, forçando-se o novo cego a comê-los para, em seguida, decepar-lhe a cabeça e atravessá-la por uma corda fina, entrando por um ouvido e saindo pelo outro, a fim de exibi-la para presos e reféns apavorados.”

AS DUAS FORMAS DE ASSASSINOS

Com relação à legalidade, há duas formas de assassinos: uma legalizada pelo estado, pelos governos, ou por instituições, como a religião, em que tais assassinos transferem de si, para uma instituição, a responsabilidade por seus atos. Assim, temos soldados de guerra, policiais, homens-bomba, etc. E outra, uma forma ilegal, não acolhida pelas instituições, aqui referidas, como os soldados do tráfico.


Um dos convidados presente ao sangrento ritual, pôs em prática, tempos depois, a sangrenta lição que teria aprendido. Seu nome: Fernandinho Beira-Mar. “Primeiro, cortaram-lhe lentamente os dedos das mãos, um a um, que foram sendo pendurados num varal. Beira-Mar, acompanhando por telefone tudo o que acontecia dentro do cativeiro da morte, gostou de ouvir a descrição e sorriu satisfeito. Depois, foi a vez dos dedos dos pés. Michel tinha de sofrer com os cortes e a assistir a tudo. A seguir, os próprios pés. Os assassinos, em câmera lenta, obrigaram o infeliz a andar sobre os tocos, dolorosamente, enquanto outras partes do corpo continuavam sendo cortadas. Pelo telefone, Beira-Mar perguntava: ‘Já tiraram os pés? E os dedinhos?’Extirpadas as orelhas, agonia terrível aproximando-se do fim, o traficante ordenou, pelo telefone, que encostassem o aparelho junto ao que restou do ouvido direito e perguntou com sarcasmo: ‘Tudo bem?’Ouviu apenas gemidos. Disse, então: ‘Isso é para você aprender a não sair com mulher de vagabundo”. E “finalmente, os tiros que já não eram mais de misericórdia. O ritual da morte já havia cansado e angustiado os próprios encarregados de matar. Beira-Mar ouviu o barulho dos tiros disparados seguidamente e deu por cumpridas as suas ordens.”
E não é apenas entre Países pobres, ou entre traficantes, que a crueldade e o desprezo pela vida são praticados, mas também em países cultos e poderosos, como na Alemanha nazista.

Doutores nazistas, como Josef Mengele, eram encarregados de pesquisar novos modos de aliviar ou reanimar soldados alemães, que se feriam em batalha, bem como de encontrar evidências da superioridade do povo alemão. Para tanto, usou prisioneiros como cobaias para as suas experiências. Experiências responsáveis por 400 mil mortes em Auschwitz. Injetou tinta azul nos olhos de crianças, jogou pessoas em caldeirões com água fervente, para testar suas reações, dissecou corpos de prisioneiros ainda vivos, fez centenas de experiências com gêmeos, que logo após eram mortos e dissecados.
E por que justamente nestas, feitas em sua grande maioria por pessoas comuns, não criminosas, se instalaria os genocídios e as grandes atrocidades?

Todos temos condições e possibilidades de nos tornarmos assassinos, seja por nos mantermos vivos, ou defendendo o que ou aquém amamos, ou ainda por saciarmos nossos instintos, como predadores. E para aqueles que não acreditam nisso, lembrem-se, que milhares de animais são torturados e mortos todos os dias, pelo o único objetivo de abastecer nossas mesas - o que se evidencia, de modo claro, nossa natureza. Contudo, nem todos nós nos tornaremos assassinos. Não havendo mesmo o chamado instinto assassino, como podemos ver em muitos casos: se compararmos, por exemplo, os casos de alguém que briga instintivamente, com quem aprendeu a brigar, anulando seu instinto, e portanto direcionando melhor seu corpo contra o adversário, notaremos que o primeiro dificilmente machucará o oponente fatalmente, pois este, diferente do segundo, não aprendeu a golpear nos pontos fracos do inimigo. Outro fato sabido é que nas guerras mais de 70% dos soldados, em seu primeiro combate, são incapazes de ferir seus adversários mortalmente. É preciso muito treinamento para que estes possam obedecer as ordens de ataque, mais facilmente.
Somos ainda, como a milhares de anos atrás, seres sociais, seres que vivem em grupos, e se não há o instinto assassino, há, certamente, os instintos sociais. Um desses instintos é uma predisposição para obedecer a líderes. O que, certamente, foi de extrema importância para nossa sobrevivência, já que menos brigas por status sociais, representava mais corpos saudáveis para a caça ou para a proteção do grupo. “Era especialmente importante que machos solteiros, entre 15 e 25 anos obedecessem ordens até mesmo quando essas ordens envolvessem risco e matança. Estes solteiros eram os caçadores da tribo, guerreiros, exploradores e aqueles que se arriscavam; um bando sobreviveria melhor se eles fossem tanto agressivos para com estranhos de fora quanto amenos ao controle social.”
Deste modo, há um ponto em comum, entre assassinos legais, como assassinos de guerra, e os ilegais, como os assassinos do tráfico de drogas: “no hábito de matar sobre ordens”. O que, de modo geral, contrasta, essencialmente, com outras formas de assassinos. Porém, talvez, excetuando os insanos, todos obedecem a uma hierarquia de valores.

C O N C L U I N D O:

Hierarquizamos nossos valores, priorizamos por importância uns mais que outros. E embora os sentimentos não evoluam, por uma necessidade biológica, ao longo dos anos, sua hierarquia, sim. E, quanto mais priorizamos valores egoístas, mais nos tornamos aptos a crueldade, ou ao assassínio.